Outro dia estava conversando sobre a felicidade e apareceu uma pergunta importante: "É possível alguém ser feliz diante da tamanha desigualdade social que vivemos?"
Hoje em dia eu diria que sim! Mas preciso fazer uma consideração lógica a de que felicidade não é algo estático e permanente, ninguém é 100% feliz isso impossibilitaria o sentido da vida, daria lugar ao tédio. A busca humana é inerente à nossa condição de ser.
Voltando ao assunto da possibilidade de ser feliz sim, posso dar como exemplo o Che Guevara que profundamente humano era tocado por grande "insatisfação" (não é o termo correto, acho melhor talvez inconformado) com a realidade social, suas desigualdades e injustiças, mas nem por isso era infeliz. O que movia sua felicidade era o sentimento de amor pela vida, pelos homens, ele em vários textos fez referência à essa capacidade humana de superação, de união e companheirismo... Ele percebia essa coisa linda que era a vida, os homens e não se deixava "perder a ternura" diante das coisas horríveis, pois em contrapartida ia encontrando muita beleza pelo caminho como a amizade, a solidariedade, a união, o desprendimento, ou seja, ele tanto viu como sentiu o amor na sua forma mais genuína e desinteressada.
Em fim, há que se por na balança o que há de bom e o que há de ruim na vida e na sociedade. Claro que as injustiças sociais diárias que vimos nos jornais nos revoltam, mas não podemos deixar que isso nos destrua por dentro, nos infectem com ódio ou rancor, ou mesmo com o sentimento de impotência ou depressão. Precisamos parar para observar as coisas boas que existem na vida, e abrir os olhos às SOLUÇÕES encontradas por aí, alternativas ou não. Olhar para as pessoas que FAZEM e não para as que reclamam...
Na mesma medida que existem pessoas ruins e quebradas, existem pessoas boas, batalhadoras e saudáveis. E também existem as pessoas apáticas que não são más, mas também nada fazem como eu e seguem a vida tentando se convencerem que nada podem fazer. Sim, por vezes deixo o sentimento de impotência e dor me dominar diante das injustiças que vejo, mas infelizmente vou seguindo tentando fazer o possível para não enxergar estas misérias ou esquecer - e esse é meu mecanismo de auto-defesa para não enlouquecer ou cair de novo em depressão, mas no fundo sinto que algo deveria ser feito...
De forma geral faço o que a Clarisse Lispector tanto aborda em seus livros sobre as pessoas fugirem constantemente da realidade e inventarem seus mundinhos próprios para não enxergarem além, porque a realidade machuca muito, dói. Geralmente a fuga da realidade é tanta que uma personagem sua precisou comer uma barata para não voltar novamente para seu mundinho, para não perder o seu "momento de realidade" (termo de Clarisse), mas sim permanecer na realidade. Pelo menos esta é minha interpretação do que houve, mas há divergências, acho que preciso ler novamente "A Paixão Segundo GH".
Agora cabe a nós saber se queremos comer a barata e até mesmo tomar a pílula para sair da Matrix (in)perfeitinha. Ou vamos retornar sempre ao nosso mundinho seguro e viver nossa vidinha mais ou menos - lembrando que a Matrix não pode ser perfeita, ou seja, nosso mundinho nunca é perfeito, mas é melhor que a realidade nua e cruel, não é mesmo?!
Estou aqui falando isso tudo para eu mesma! Estou num momento feliz comigo mesma sim, mas me questionando se não deveria fazer algo contra as injustiças e desigualdades sociais que tanto condeno e sei que são causadoras dos grandes males que vemos hoje.
Sabe, ficar na Matrix significa ser passional e ir vivendo minha vidinha tentando ser feliz e ao mesmo tempo sendo "sugado" para alimentar o sistema e tudo continuar como está (nada muda!). É quase uma troca, a gente ganha ilusões de possível felicidade e ao mesmo tempo alimenta o sistema. Sair da Matrix significa ter que ralar p/ caralho, ter que viver a vida real com dores reais, significa ter que agir, pois não dará mais para ficar só reclamando. Significa correr riscos, mas para um bem maior, a liberdade! Sair significa se tornar ativo, autor da história e fundamental para a luta contra a opressão, sair significa lutar contra a opressão (nossa resgatei Paulo Freire...rs, mas é completamente cabível). Paulo Freire fala que a tomada de consciência é uma ruptura com a passividade, com as visões limitadas onde perceber a opressão é inevitável e é o momento onde a pessoa passa a se sentir sujeito e então meio que, ao ir se inserindo como sujeito da história, ele vai lutando contra a opressão consequentemente...
Aahhh, Paulo Freire também era um homem muito feliz, cheio de vida, que procurou viver intensamente ao seu modo, profundamente humano e admirador dos homens/vida e também foi "gente que fez"...rs Ele não só saiu da Matrix como ajudou muita gente a sair e também se tornou um exemplo como Che Guevara, cada um ao seu modo...
Aahhh, Paulo Freire também era um homem muito feliz, cheio de vida, que procurou viver intensamente ao seu modo, profundamente humano e admirador dos homens/vida e também foi "gente que fez"...rs Ele não só saiu da Matrix como ajudou muita gente a sair e também se tornou um exemplo como Che Guevara, cada um ao seu modo...
Algumas Frases do Che:
"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros."
"O revolucionário deve sempre ser integral. Ele deverá trabalhar todas as horas, todos os minutos de sua vida, com um interesse sempre renovado e sempre crescente. Esta é uma qualidade fundamental."
"Não quero nunca renunciar à liberdade deliciosa de me enganar." (cometer erros, né?!)
Mais duas clássicas:
"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura."
"O verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor."
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